quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Um dedo por uma casa

Por Thaiane de Oliveira Borges

Não faltam exemplos de coragem e solidariedade na história de Keila Braga, uma moradora da Cerâmica que gosta de tudo da sua rua. Seu tio foi capaz de perder um dedo para dar uma casa para sua avó.


Nome Keila Quirino Braga >> Idade 20 anos

Rua Albina >> Bairro Cerâmica

Time Não tenho >> Religião Evangélica

O que gosta de fazer?
Tocar saxofone

O que não gosta de fazer?
Ficar parada

O que gosta em sua rua?
Tudo

O que não gosta em sua rua?
Nada

Quanto tempo mora em Nova Iguaçu?
20 anos

Tem família na rua?
Não

Porque entrou no projeto?
Expandir meu conhecimento

Acha que vai ganhar o prêmio?
Sim

O que vai fazer com o prêmio?
Usufruir

Minha rua tem história por quê...
O tio de Keila queria a ajudar a avó a comprar uma casa. Conseguiu realizar o sonho de ambos. Mas isso só foi possível depois que ele perdeu um dedo.

Presa por um fio

Por Thaiane de Oliveira Borges

Se ganhar o prêmio, Itamaraci Santos vai guardá-lo como uma boa lembrança do projeto "Minha rua tem história", que ela acha legal. Seria uma ligação com o passado bem diferente da que ela tem com uma das casas em que morou. Era tão velha e vulnerável, que terminou caindo no dia em que o pedreiro cortou o fio de instalação.

Nome Itamaraci de Souza Santos >> Idade 23 anos

Rua Fagundes Varela >> Bairro Cerâmica


Time Flamengo

Religião Não tenho religião, mas acredito em Deus

O que gosta de fazer?
Ouvir música

O que não gosta de fazer?
Cozinhar

O que gosta em sua rua?
Da tranqüilidade

O que não gosta em sua rua?
A falta de telefone público

Tem família na rua?
Não

Por que entrou no projeto?
Porque é legal

Acha que vai ganhar o prêmio?
Sim

O que vai fazer com o prêmio?
Guardar de lembrança


Minha rua tem história por quê...
Itamaraci morava em uma casa muito velha, onde entrava água por cima e por baixo. Como não tinha muro, os vizinhos ficavam na espectativa para ver a casa cair. Um dia, os donos da casa resolveram trocar as telhas. Quando o pedreiro cortou o fio de instalação, desabou tudo.

Uma mulher à moda antiga

Thaiane de Oliveira Borges

Marcela Anízio é uma mulher à moda antiga. Não tem email, nem orkut, nem time de futebol. Mas tem muita fibra. Sua sogra que o diga.

Nome Marcela da Silva Firmino Anízio >> Idade 25 anos

Rua Estrada Santa Rita >> Bairro Parque Flora

Time Não tem >> Religião Evangélica

O que gosta de fazer?
Cantar

O que não gosta de fazer?
Passar roupa

O que gosta em sua rua?
Dos vizinhos

O que não gosta em sua rua?
Das palmeiras. Porque, quando venta e chove, acaba a luz

Quanto tempo mora em Nova Iguaçu?
25 anos

Tem família na rua?
Não

Por que entrou no projeto?
Pela possibilidade de arrumar uma profissão

Acha que vai ganhar o prêmio?
Talvez

O que vai fazer com o prêmio?
Dar para a filha que deseja muito ter um MP4

Minha rua tem história por que...
Marcela não se dava muito bem com sua sogra. A relação chegou às raias do insuportável num dia em que elas discutiram. Mesmo grávida, Marcela resolvou sair de casa. Isso fez com que o marido terminasse a casa em um dia.

Obras explosivas

Turma A da Cobrex apresentou 22 relatos
Por Bruno Marinho

Nesta quinta-feira, dia 11, foi o dia do “vamos ver” do pessoal da turma A, no bairro Cobrex. Depois da dinâmica na terça-feira, os participantes da gincana receberam como tarefa trazer histórias de obras que marcaram suas vidas. Eles nos encheram com seus contos. Vinte e dois dos 30 jovens presentes participantes fizeram relatos de obras em suas casas. Houve histórias de todos os tipos.

Uma delas foi a obra assassina da casa do tio de Daniele Costa. Ela foi parar no Hospital da Posse por causa do banheiro que seu tio Rogério começou a construir no banheiro no quintal que compartilham.

- O dinheiro acabou e ele deixou um muro sem coluna – contou ela, que na época tinha oito anos. – Fui buscar um brinquedo que meu irmão esqueceu no banheiro em construção e, quando passei pelo muro, ele caiu em cima do dedão do meu pé.

Em seguida, foi a vez da sua irmã Camila furar a cabeça no vergalhão da obra do tio e, para evitar novos acidentes, o pai achou por bem construir um muro no meio do quintal para separar seus filhos daquela obra assassina.

Castigo de Deus

Também apareceram histórias místicas, como foi o caso do longo relato de Ester dos Santos. Com o título de “Deus castiga ou não!”, a obra sobre a qual Ester falou remonta ao ano de 2004. Tudo aconteceu em um mês.

- Nós fazíamos dez fileiras de tijolos, mas, quando íamos virar o concreto no dia seguinte, oito tinham caído.

As dificuldades iam da água para a massa até a sombra para descansar. Como se não bastassem todos os percalços, um raio caiu um mês depois no telhado recém-construído e deixou uma cratera.

- O pior é que dessa vez a gente teve que se virar sozinho por causa de uma piada que meu marido contou sobre os crentes um pouco antes desse temporal que arruinou nossa obra – contou Ester. – A gente teve que se virar com uma telha de alumínio.


Pedreiros abusados

Luana Eliseu contou uma das muitas histórias sobre pedreiros que não cumprem os tratos assumidos. Foi numa obra contratada pelo seu padrasto há cerca de quatro anos, que ingenuamente ficou feliz da vida com os primeiros resultados do muro e do banheiro construídos em um mês.

- Para economizar o material, o pedreiro aproveitou o muro para parede do banheiro – disse Luana. – Na primeira chuva forte, meu padrasto ouviu um barulho muito forte quando estava assistindo televisão. Ele correu para o quintal e se deparou com o muro e o banheiro em cima das duas bicicletas dele e do cachorro.

O padrasto de Luana sentiu vontade de esganar o pedreiro quando ouviu a desculpa furada dele.

- O pedreiro disse que não tinha culpa por que não enxergava direito.

O mesmo pedreiro seria contratado pelo padrasto de Luana um ano depois, quando a família se mudou para uma casa nova. Sentindo-se fortalecido com o novo convite, o pedreiro chegava às 10 horas querendo tomar café da manhã e, depois de almoçar com a família, ia fazer a sesta embaixo do pé de acerola. Apesar do tratamento vip, a obra deixou como saldo uma janela na altura da cintura, uma porta de ponta cabeça e uma parede excessivamente grossa, onde todos se arranham ao passar.

- Ele ainda era metido a eletricista e por causa dos seus gatilhos a cozinha pegou fogo – lamentou Luana. – Ele ainda ficou com raiva da minha família e nunca mais apareceu lá em casa.


Volta da correria

“Uma chuva inesquecível” foi o título da história contada por Susana Alberto Gaspar, sobre as obras que sua família teve que fazer depois do temporal que começou a cair às dez da noite do dia 26 dezembro de 2003, logo inundando a sua rua e a própria casa.

- Foi a maior correria para sairmos, pois a pressão da água estava forte e arrastava tudo pela frente – narrou Susana. - Fomos para a varanda de uma vizinha, a Dona Nilda.

Na volta, a família registrou muitos prejuízos. Mas nenhum deles se comparava à queda da parede da cozinha, tão antiga quanto a casa em que moram ainda hoje.

- Meu pai e meu tio chamaram um pedreiro e em dois dias ele ergueu a parede.- lembrou Susana.

O pedreiro que bebeu cloro dado pelo próprio filho pode ser catalogado na categoria de histórias inusitadas.

- Meu pai queria reformar a casa que iríamos morar – contou Cosme Pereira. – Ele chamou Paulo, um pedreiro conhecido dele. Em um dia, Paulo estava cortando pisos quando recebeu a visita do filho. Com sede, Paulo pediu um copo de água. O filho levou um copo colorido cheio de água. O pai bebeu e morreu três meses depois.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Aprendendo com as mulheres

Por Jéssica de Oliveira

A mãe de Elias, dona Cláudia, é uma mulher de muitos instrumentos. Foi ela, por exemplo, quem ensinou o marido Hélio o ofício de pedreiro. Mas esse não foi a única lição que ela deu para seu Hélio. Também foi com ela que o marido aprendeu a coragem necessária para morar numa casa ainda em construção, dormindo no chão para economizar o dinheiro que seria gasto no aluguel.

Essa história é de Elias Rodrigues Aquino, de 19 anos, estudante, morador da rua Pernambuco. Ele é torcedor do Flamengo e não se prende a uma religião, mas se diz cristão. Ele conta que o melhor de sua rua são os vizinhos, que são excelentes pessoas, e que gosta de morar lá; as únicas queixas dos moradores da rua Pernambuco são a falta de água e iluminação precária.
Nas horas vagas, ele gosta de ler e conversar com os amigos. Não gosta de papos pela internet e ficar na rua, pois é muito caseiro.

Elias aproveita a chance de estudo oferecido pelo projeto para aprimorar-se e ter mais oportunidades de empregos na área gastronômica. Está muito motivado e diz ter chances de ganhar os prêmios oferecidos aos jovens que se destacarem e que quer doá-los ao irmão mais novo.

Aprendendo com a mulher
Eles tiveram que construí-la sozinhos. Sua mãe, que nunca sonhou em passar por essa situação, se viu virando massa e levantando paredes. Na verdade, foi ela quem ensinou o ofício de pedreiro ao marido.

Em meio a muitas dificuldades, seu Hélio, pai de Elias, sofreu vários acidentes e caiu do telhado duas vezes, mas por sorte sofreu apenas ferimentos leves.

Além desses acidentes, a obra parecia nunca acabar. Seu Hélio construía uma parede e logo a derrubava, pois via que estava torta. No final, derrubaram mais paredes do que levantaram.

Um dia, quando seu Hélio passava pela construção, viu uma luz acesa e se desesperou, achando que tinham invadido a casa. Mas na verdade era a dona Claudia, mãe de Elias, que resolveu ir morar lá do jeito que estava: sem água, sem luz, sem janelas, sem portas e sem piso (o chão era de terra batida).

A principio, Seu Hélio ficou louco, mas depois reconheceu que a atitude se sua esposa era muito racional, pois sem o aluguel, a obra poderia ser concluída com mais rapidez.

Hoje, tudo vai bem na casa de Elias. Na cozinha há algumas infiltrações, mas nada que atrapalhe o dia-a-dia da família Rodrigues.

Aquela obra, com todas as dificuldades que a acompanharam, não foi o suficiente para "derrubar" o sonho de ter uma casa para "abrigar um lar", ainda mais para uma família como aquela, que acreditou, se uniu e perseverou até o fim.

Dois coelhos com uma só casa

Por Felipe Lacerda

A família de Joyce sonhou com uma casa própria durante anos. O sonho era tão grande que engoliram o orgulho e aceitaram as condições impostas pela esposa de um parente da minha mãe, todas elas humilhantes. Além disso, seu pai colocou a mão na massa e levantou a casa. No começo, ele era ajudado por um amigo. Mas depois ele fez no peito e na marra. Foi assim que ele se tornou pedreiro.

Nome Joyce >> Idade 22 anos

Rua Barão do Rio Branco >> Bairro Cobrex

e-mail joice_21ferreira@yahoo.com.br

Orkut boladonade@yahoo.com.br

O que gosta de fazer?
Trabalhar

O que não gosta de fazer?
Ficar à toa

Há quanto tempo mora em nova iguaçu?
22 anos

Tem família na rua
Não

Por que entrou no projeto?
Fiquei interessada em fazer o curso

O que está achando do projeto?
No início não gostei muito, mas até que agora tô gostando.

O que achou do evento na Vila Olímpica?
Não fui

Qual o prêmio que você quer ganhar?
A máquina digital

Conte a sua história...

Minha mãe sempre sonhou com a casa própria, mas não tinha condições de comprar um terreno. Comovido com nossa situação, um parente deixou que ela levantasse uma casa no seu quintal. Só que a esposa dele colocou um monte de empecilhos. Foram tantas condições que quase o negócio deu para trás.

Éramos tão pobres que, além de não podermos comprar um terreno, não tínhamos dinheiro para pagar um pedreiro. Quem quebrou o galho foi um amigo do meu pai, que se ofereceu para fazer a obra gratuitamente. A única condição que impôs é que fôssemos seus ajudantes na hora de virar a massa, fazer coluna, etc.

Esse amigo de meu pai foi chamado para uma outra obra e meu pai deu um curioso. Mesmo sozinho, ousou levantar uma parede, fazer uma sapata e assim sucessivamente. Quando deu por si, a obra já estava pronta.

E ele gostou tanto da idéia, que hoje é pedreiro.

As sapatas também precisam de ferro

Por Márcia Bianca

Cledinelde é uma morena ofuscante, como diz no próprio e-mail. Mas já aprendeu com sua mãe que não dá para contar com os homens. Sua mãe, Cledenilde como ele, espera até hoje que um dos três homens que comem do seu feijão façam sua varanda. Pior que nem tem um lugar para esperar sentada.

Nome Cledenilde >> Idade 24 anos

Ocupação Trabalha em uma fábrica de costura

Rua Travessa São Jorge Bairro Cobrex

E-mail morenafuscante@.bol.con.br

Quem sou eu?
Uma garota tímida, amiga e legal.

O que não gosta de fazer?
Arrumar casa.

O que gosta de fazer?
Sair muito. Ir à praia principalmente.

O que gosta em sua rua?
Gosta da liberdade que as crianças têm de brincar sem perigo.

O que não gosta?
Das fofocas dos vizinhos

Há quanto tempo mora em Nova Iguaçu?
11 anos

Tem família na sua rua?
Não.

Por que entrou no projeto?
Me interessei por um dos cursos.

O que está achando do projeto?
Estou gostando. É uma experiência nova pra mim.

Acha que vai ganhar algum prêmio?
Sim.

O que você achou do evento da Vila Olímpica?
Não fui.

Conte sua história...

Ferro na sapata
Minha mãe vivia reclamando que tinha três homens dentro de casa e ninguém construía sua varanda. De saco cheio de tanto escutar, meu padrasto resolveu ele mesmo construir a tal varanda. Não pediu ajuda a ninguém. Cavou os buracos para fazer as sapatas e jogou todo o concreto no buraco. Mas esqueceu de colocar os ferros da sapata e terminou gastando o material comprado por mamãe, que continua reclamando dos homens imprestáveis que comem do seu feijão.